Israel e Irã possuem capacidade nuclear, mas uso em conflito atual é improvável, apontam especialistas

Israel e Irã possuem capacidade nuclear, mas uso em conflito atual é improvável, apontam especialistas

Israel e Irã detêm, em níveis diferentes, capacidades relacionadas ao desenvolvimento de armas nucleares. No entanto, segundo especialistas e entidades internacionais, é improvável que esses armamentos sejam utilizados no atual cenário de tensão entre os dois países.

O que se sabe sobre o programa nuclear de cada país?

Israel
Israel é considerado detentor do oitavo maior arsenal nuclear do mundo, com cerca de 90 ogivas, conforme estimativas de organizações internacionais como a Federação dos Cientistas Americanos (FAS) e o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).

Essas ogivas estão classificadas como armazenadas, ou seja, não estão montadas em sistemas de lançamento prontos para uso imediato — uma condição diferente da observada nos arsenais de países como Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China.

Apesar das estimativas, Israel nunca confirmou oficialmente possuir armas nucleares. A política de ambiguidade estratégica, segundo analistas, tem como objetivo dissuadir inimigos regionais e reduzir pressões diplomáticas internacionais sobre seu programa nuclear.

Irã
O Irã, por sua vez, não possui armas nucleares confirmadas, mas tem capacidade técnica para desenvolvê-las. A informação é respaldada por centros de pesquisa e organizações dedicadas à não proliferação nuclear.

O país é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) desde 1968, mas vem enfrentando sanções internacionais desde 2003 por descumprimento de obrigações relacionadas ao acordo.

Em 2015, o Irã firmou um pacto com o grupo P5+1 (EUA, China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha) para limitar seu programa nuclear em troca do alívio de sanções. O pacto, no entanto, foi esvaziado após a saída dos Estados Unidos do acordo em 2018, no governo Donald Trump. Desde então, o país tem gradualmente descumprido os termos pactuados.

Em 2024, um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicou que o Irã possui urânio enriquecido suficiente para a produção de múltiplas ogivas nucleares, com 712,2 kg em 20% de enriquecimento e 121,5 kg em 60% — níveis próximos dos 90% necessários para fabricar uma bomba atômica.

A quantidade necessária para a construção de uma ogiva varia conforme o tipo de armamento, podendo ser possível com menos de 10 kg de urânio enriquecido a 85% ou mais.

Uso de armas nucleares é improvável

Especialistas consideram improvável o uso de armas nucleares por Israel ou Irã no atual conflito. A avaliação se baseia no potencial devastador da radiação, que atingiria não apenas o inimigo, mas também aliados e o próprio território dos envolvidos.

Segundo analistas de relações internacionais, o uso de armamentos convencionais é mais provável, já que ambos os países possuem estoques significativos dessas armas.

Situação global do arsenal nuclear

Segundo o Anuário Sipri 2024, nove países possuem armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel.

Estima-se que existam atualmente cerca de 12.241 ogivas nucleares em todo o mundo, número superior ao registrado no ano anterior. Os investimentos em modernização dos arsenais, especialmente por parte de Estados Unidos e Rússia, geram preocupações quanto ao cumprimento do TNP, que visa conter a proliferação e promover o desarmamento.

“O compromisso global com o desarmamento parece estar cada vez mais distante”, aponta Wilfred Wan, diretor do Programa de Armas de Destruição em Massa do Sipri.